sábado, novembro 21, 2009

Outra aldeia

Sentada no degrau de granito à porta daquela velha casa, olha as primeiras folhas de um Outono tardio serem arrastadas pelo vento.
Aconchega-se dentro da sua camisola de lã encarnada enquanto o chá arrefece dentro da chávena e pensa como tudo mudou naquele sítio. Ainda se lembrava de quando sentada naquele mesmo degrau via passar nos finais de tarde os pequenos seres saltitantes chilreando com grandes mochilas coloridas enquanto chutavam inutilmente as folhas dos plátanos com a inocência nos pés de quem ainda dorme para o mundo.
Anos mais tarde os mesmos seres, já maiores e menos saltitantes, pavoneavam-se com os seus sonhos sob a forma de emblemas cozidos pela mão das mães nas sacolas já bem mais vazias de livros.
Hoje, já com o chá frio que acabou por nem provar, sente-se como os velhos plátanos que oscilam ao vento para deixar cair outras folhas que esperarão em vão ser chutadas, como a calçada dos passeios que aguarda inutilmente voltar a ser a passerelle das primeiras hormonas e envelhece no olhar como de resto toda aquela aldeia…