sábado, abril 01, 2006

Resposta

Na beleza tua que ignoras, emprestaste indolente o dourado às chamas do frio mundo ao qual não pertences e deixaste-te olhar de igual pelas aves que recortavam pedaços daquele céu que, com tuas mãos aladas, tentaste roubar para fazer meu. Mas ter-me-ei deixado dormir?!...
Agora olho ao fundo os dias rasgados do calendário, na esperança de neles ver mais do que os sois que fugindo morreram para não mais nos pertencerem. Abro nas mãos aquela janela, que em sorrisos cheios de luz me habituei a ver-te libertar, mas falha-me o gesto pois não é nem teu nem para ti e já nem olhos pareço ter para estas banais manhãs. Questiono-me porque é que, querendo-te, fujo invariavelmente sem jamais render a minha débil sobranceria perante aquelas tuas verdades com que marcaste, com o teu azul escrito, tantos papéis meus. Porque é que detrás de mim me escondo cheio de mar e céu e fogo e vento e “eu”, escolhendo vestir a mentira de te fazer crer que sou diferente de ti, que sou penumbra de gente, invertebrado impermeável a lágrimas e sentimentos teus. E será que estarei a dormir?!...
Temo-te a grandeza apaixonada e a vida que carregas forte em teu sangue, e assim sigo enganando-te nesta impotência de ser eu perante ti. Mas depois desta cruel dança de jogo de xadrez, que controlo com torres negras, seguirás sem esperança de ver em mim a luz de teus inebriantes desejos?... Virão dias de pequena glória doirada, largados de mansinho a conta gotas na terra, sobre a forma de um sol de Primavera?... Ou será que dormirei já em ti?