sexta-feira, março 24, 2006

A minha Covilhã

Repousa já quase na sua totalidade a luz natural do outro lado do maciço que se reclina para a acomodar a cidade no seu regaço. Longos campos se espraiam bucolicamente aconchegando de doirado e verde o sopé onde as casas, para se refugiarem do granítico frio que teima em soprar de norte, se juntam ao calor da luz de candeeiros alaranjados.
Sulcada pela violenta vontade das águas livres que outrora a fizeram mover, a cidade aperta nas quelhas o labiríntico abraço da sua velada beleza e deixa que seja hoje o caminhar jovem de outros lugares a encher de energia os antigos pinheiros que anarquicamente a circundam.
Aqui as almas emanam puras de bocas que se abafam no sotaque fechado e a neblina não é igual à de lugar algum. Esta parece sempre unir-se progressiva e lentamente na missão de abraçar, por uma noite mais, o sono de ruas que sempre se sobem em desafio ao contrário sentido das ribeiras, onde as contíguas fábricas jazem injustamente flageladas pelo chicote pesado dos anos. Talvez esperem ainda, e em vão, que uma mão gentil e meiga as socorra do fim que ainda hoje são renitentes em aceitar.
Erigida na brutalidade de máquinas texteis sobre a base de um verde equilíbrio permanente e coroada sazonalmente por neve, sei que não é só uma cidade, é uma plácida simbiose de liberdade e conforto que me deu mais do que algum dia poderei devolver.

1 Comments:

Blogger mara said...

Como ela é linda...como é bom saber que se pode viver aqui! Como foi bom aproveitar cada momento, cada paisagem, cada cheiro, cada sorriso da (pouca) boa gente que por aqui ainda habita!!Como será melhor deixa-la...pra que outras pessoas a vivam como nos a vivemos, e q a saibam deixar á sua neblina no momento certo. Como será bom olhar pra ela no momento da partida e dizer "obrigado Covilhã por tudo o que me deste" fechar os olhos e pensar "Vou-me embora por tudo o que me tiraste"

Eu sei que me percebes...

segunda-feira, 01 maio, 2006  

Enviar um comentário

<< Home