sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Pedaços de papel

Entreguei-te naquelas escadas de cinzento cimento um papel que não era maior que a minha pequena certeza mas que continha dentro o meu mundo. Venci o medo das hienas da tua companhia e enfrentei a surpresa de teu olhar sem saber o que esperar. Não o leste ali e visto à distância de todos estes anos talvez isso denotasse já que não eras uma entre iguais.

O que o tempo nos reservou para o então futuro, hoje passado, foi o da simplicidade de um amor baseado na instabilidade aparentemente estável da nossa incipiência e atormentado por pais e hormonas. E assim seguimos a pequenos passos, com o marcado regozijo da simplicidade de coisas tão complexas, até ao dia em que se precipitou outro pedaço de papel, este fatal e do tamanho do que se havia já acumulado um do outro em nossos dias.

Depois de um perdão que mais apelou ao medo de solidão de ambos e à protecção recíproca num novo ambiente em tudo hostil que a um qualquer racionalismo, regressámos já diferentes ao antigo mesmo. Assim, cedo a minha infantil ânsia de viver, misturada com as vicissitudes de menino mimado que sempre teve o que queria, embateram no muro do teu conformismo ao status quo. Durante algum tempo desejei ainda que algo mudasse em ti para que algum futuro se vislubrasse mas depressa me distraí com outro alguém que se apresentou no meu caminho e tu seguiste o rumo da tua felicidade. Hoje és demasiado diferente do que havia conhecido de ti porque alguém te mudou, alguém fez de ti o que eu não fui capaz… fazer-te feliz!

O que com ele criaste em ti, completou em simbiose o que te faltava, e hoje, talvez por estar eu também feliz, o consiga escrever sem quaisquer véus ou falsas pretensões. Lamento ainda assim que não o faça em outro pedaço de papel de um outro formato, tamanho e côr mas já merecias estas linhas...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Obrigado pelo papel que me entregaste nas escadas de cinzento cimento.
Obrigado até pelo pedaço de papel "fatal" que me ensinou a crescer.
Hoje digo mais uma vez obrigado por estas linhas que me fazem sorrir.

Uma amiga que te adora

segunda-feira, 20 fevereiro, 2006  
Blogger Um_palhaço_triste said...

O teu sorriso brilha em mim e eu sei que o que te dou ao ler-te aqui também brilhará em ti. Que não nos esqueçamos nunca que "a memória é onde tudo acontece para nos pertecer" - Virgílio Ferreira

terça-feira, 04 abril, 2006  

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