sábado, março 18, 2006

in-existentia

Põe o seu melhor vestido negro e nele não se permite ver nada mais para além do que quer. Põe a base, em excesso, para esconder a tristeza de ainda ter que a pôr e em seguida deixar-se cair até ao distante piso térreo onde o grande cavalo, igual a tantos outros nunca brancos, a leva até onde julga ter de ir. Antes de se deixar conduzir ainda olha de relance os néons da rua que incitantes parecem fremer para si.
Agita-se já mais torpe e por momentos crê-se comandada por olhos alheios que lhe moldam os movimentos no corpo e assim se dista de si ainda que isso não pareça importar-lhe de todo. Mas galopam as horas de um dígito entardecendo nos seus membros a noite e acordando a neurastenia da primeira luz natural que a conhece tão bem.
E de repente já não é, foi… e agora não quer regressar… mas regressa lentamente e arrasta atrás de si o fundo dos copos que não partilhou. A rua parece-lhe agora feita de uma aguarela demasiado alva e pouco forte nas cores que se vai borrando disforme à sua passagem.
Sobe para o seu cavalo, que de novo sem cavaleiro, lhe parece agora um pouco mais escuro. Alterna o seu playback que corta ousadamente o silêncio por alguns olhares distantes no vazio (talvez o seu), ao mesmo tempo que o pesado frio húmido do Inverno lisboeta funestamente incomoda e alastra dos braços para as costas.
Já está em casa e ainda que o profira jamais a sente. Deita-se e de olhos fixos na imensa e envolvente escuridão não sabe se vai dormir ou acordar por umas horas…

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

gostei do que li, só nao sei se conseguirei encontrar imagens que façam justiça a este texto.mas como em tudo só tentendo.(a saudade aperta,até breve)

sábado, 01 abril, 2006  

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