quarta-feira, maio 24, 2006

Aquela nossa noite

Entraste na minha noite, pequena e singela, para depressa a fazeres nossa. Mas para mim foi como se o mundo tivesse começado a girar noutro sentido para me mostrar com outra luz o que há muito não via, se é que alguma vez cheguei a ver.
Impuseste a tua voz sobre a minha e juro que por momentos julguei que nem sequer me ouvias, mas deixei de lado o orgulho e desculpei-te na tua inocente graça. Sorrimos e rimos, mexemos os corpos, molhámos os lábios um pouco salgados pelo ar húmido que se fazia sentir, e assim o tempo se esqueceu de nós.
Já na claridade que anunciava a morte da noite, demorei mais no compasso já lento que levava para acompanhar teus pés cansados e doridos, mas ainda deste-me um não pouco convicto mas nobre, quando me propus carregar a tua leve existência em minhas costas. Jamais esquecerei os tímidos sorrisos que de soslaio me deste enquanto testava a tua paciência ao volante, e deixei-me seduzir por eles para não encarar a verdade de que, depressa e de novo, iríamos apanhar o tempo dos outros mortais e que então ter-te-ia que deixar... E pode até ser que me tenhas sabido mais doce pelo vazio que muitas vezes tem sido a minha vida, mas pouco me importa porque me recuso a aceitar que tudo o que é bom tem um fim, que a seguir ao doce vem sempre o amargo e que estando longe não te possa ter perto.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Sem dúvida tens o dom supremo de transformar coisas (e pessoas) simples e banais em algo de muito especial, tal como um toque de midas. És realmente muito especial... Tânia

quarta-feira, 24 maio, 2006  

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