quinta-feira, maio 04, 2006

Palpáveis Ilusões

Dou por mim de novo a cair no mesmo erro, a escolher igual caminho sempre que a vida me traz de volta a este mesmo sítio, e não me parece que a memória me possa salvar de mim mesmo.
De novo e como sempre, perdi a conta às horas que passo a moldar-te em minha mente, em que te faço personagem inaudita nas minhas mãos de escritor. Com Tchaikovsky em surdina ao fundo, imagino os cenários pintados à mão em tons de carmim onde vens até mim para ser minha, para me fazer sentir um homem como quiçá não fui ainda, mas no fundo sei poder ser. Mas não um homem qualquer, não um desses homens banais que vagueiam pela vida sem amor com as almas cheias de nada... não, um desses não... quero sentir-me O teu homem! E nesse mesmo instante deixo de ser a réstia dos pedaços quebradiços que as mulheres de ontem fizeram de mim, deixo de ser o que se vê para me tornar no que sou e permito-me aceitar tudo aquilo que tanto esperou por ti bem no meu âmago e que escondi do mundo e de mim só para em secreta intimidade te dar.
E agora, como sempre, espero-te como olhos madrilenos por um mar, espero-te Maria ou Rosa, loira ou morena para que possa ver em ti o que quero, para que aconteças em mim como planeio. E ainda que o tempo te revele para não seres nada de tudo o que quis ver, e que no fundo e como sempre caia esse falso gesso que moldei sobre o teu granito para o velar a meus olhos, e de novo regresse a este mesmo sítio, do qual apenas saí por me mentir... a verdade é que não posso ainda negar que te quero.
E que fazer se é esta palpável ilusão tudo o que sei ser meu, se é este engano o único que conheço que me faz sentir “eu”?! Talvez nada me reste mais senão esperar que um dia o teu caminho me encontre e que debaixo desse gesso com que eu te cobrir em nosso amanhecer, hajam pérolas, ouro e diamantes... para que não haja nunca fim de “nós” e para que não mais me sinta falhado e vazio na culpa de meus próprios enganos.

2 Comments:

Blogger lady_lena said...

"e não me parece que a memória me possa salvar de mim mesmo."
Concordo sem dúvida com esta frase, porque no fundo é a memória, os sonhos, a imaginação e a espera de que amanhã seja melhor, que não nos deixa virar a página!!!

Bjs

p.s gosto da tua escrita.

sexta-feira, 05 maio, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Palpáveis ilusões... Porque será que por vezes as posso mesmo sentir?

sábado, 20 maio, 2006  

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