quinta-feira, outubro 19, 2006

Raiva de algodão

Dormes já mas nunca em mim como não dormimos nunca nas nossas verdades em nossos peitos. Visto o teu corpo ainda nu com o calor dos meus olhos enquanto se expande ácida dentro de mim esta raiva de algodão que é amar-te nas franjas do tempo.
Será assim quando partires de novo para me deixares a revisitar-te em saudade pelos meus dias de chumbo, porque por entre os bairros tristes da minha memória só num pátio habita o sol. O teu…
Mas tantas vezes ignoro frustrado o caminho de regresso até ele, até aos sorrisos ancestrais da espera de Ulisses que vi encarnados na tua boca uma e outra vez. E juro que morro um pouco quando julgo ver detrás do teu olhar nada mais que o fumo do cigarro sem filtro que te morre na mão solta junto às ancas. Rogo-te que não te esvazies de mim e não te percas de nós. Esconde do tempo a tua esperança na palma da minha mão e segura nas arcadas dos teus sorrisos a chuva de teus olhos, porque sei que mais pátios de sol virão ainda para fazermos nossos…