Memória de um soldado
Marchavam os teus soldados negros... descompassados... Dos seus corpos exauridos chovia essa dor que secava a alma quando vi teu pai. Entregou-me a única coisa que podia: aquele abraço impotente e fraco de quem implodiu com o peso do mundo no peito, e foi então que entendi que nos tinhas condenado a todos. Ficaríamos presos por ti para sempre, e ao mesmo tempo aquele sítio passaria a ser lugar nenhum para todos nós, para os que ficámos juntos nesta solidão que nos impuseste por seres um filho do tempo que passa para ficar e não do tempo que passa por passar.
Em redor daquela tua imagem, que tua mãe pensava agarrar com a força que na verdade já não tinha, embatiam os silêncios de água e sal de quem não te pôde salvar de ti próprio e de tudo o que não se pôde ter de ti. Os nossos olhares queimavam os alheios ao se cruzar impelindo na fuga a perdê-los de seguida para aquela mesma calçada… Foi então que a vi pela primeira vez… Trazia o passo certo debaixo da saia negra e as mãos rígidas no equilíbrio inabalável da sua figura. Detrás de um véu olhou ora um ora outro mas a todos, e viu-nos por dentro como se quisesse afirmar que podia… um por um sem compaixão. Aquele olhar que não reagia nunca mas magoava, revoltava e ao mesmo tempo era estranhamente pacífico e vazio, ficou gravado a ferro em brasa no último capítulo da minha memória de ti. Ninguém ousou perguntar-lhe o que quer que fosse, nem eu, pois todos a conhecíamos e nela tudo fazia sentido pela obsidiante força da nossa impotência. Ela levara-te para longe de nós deixando regorgitadas nessa azeda terra que te teve, te consumiu, te tem e te terá para sempre, todas as flores de um estio que viria a ser longo demais.
Queria apenas que soubesses que ainda me perseguem todos os espaços que foram teus e que os dias me parecem ainda mornos de ti como se não tivesses partido, como se ainda esperassem por ti nessa estranha luz coada da tua ausência.
Em redor daquela tua imagem, que tua mãe pensava agarrar com a força que na verdade já não tinha, embatiam os silêncios de água e sal de quem não te pôde salvar de ti próprio e de tudo o que não se pôde ter de ti. Os nossos olhares queimavam os alheios ao se cruzar impelindo na fuga a perdê-los de seguida para aquela mesma calçada… Foi então que a vi pela primeira vez… Trazia o passo certo debaixo da saia negra e as mãos rígidas no equilíbrio inabalável da sua figura. Detrás de um véu olhou ora um ora outro mas a todos, e viu-nos por dentro como se quisesse afirmar que podia… um por um sem compaixão. Aquele olhar que não reagia nunca mas magoava, revoltava e ao mesmo tempo era estranhamente pacífico e vazio, ficou gravado a ferro em brasa no último capítulo da minha memória de ti. Ninguém ousou perguntar-lhe o que quer que fosse, nem eu, pois todos a conhecíamos e nela tudo fazia sentido pela obsidiante força da nossa impotência. Ela levara-te para longe de nós deixando regorgitadas nessa azeda terra que te teve, te consumiu, te tem e te terá para sempre, todas as flores de um estio que viria a ser longo demais.
Queria apenas que soubesses que ainda me perseguem todos os espaços que foram teus e que os dias me parecem ainda mornos de ti como se não tivesses partido, como se ainda esperassem por ti nessa estranha luz coada da tua ausência.
1 Comments:
Tão cruel, tão pesado!É raiva ou respeito o que tens por essa morte de saia preta? "Silêncios de água"... uma vez li que a água tem memória! Se de facto tiver; que um dia me deixe beber o que foi dito nesses pensamentos sem voz! Um enorme beijo
P.S. I miss him too!!
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