terça-feira, junho 27, 2006

Blasco de Garay

Voavas na aura do meu desejo e não sabia se fazer-te real era o que queria. Imaginava tímido a tua voz alta de espanhola de cada vez que julgava ver-te pelos passeios de Madrid e ali estavas… de novo sentada naquele mesmo café, que tal como eu já havíamos feito nosso. Três, quatro, cinco, seis metros separavam a tua beleza espectral do meu corpo magneticamente colado à cadeira e esta ao chão e o chão ao centro da terra. Senti o poder da massa física do planeta esmagando-me contra si, impedindo-me de me mover para ir ao teu encontro… senti-me enjoado como depois de uma longa viagem em autocarro e ao mesmo tempo a querer chorar a minha impotência perante tudo.
Ainda ignoravas a minha existência e mais ainda a minha presença, e os metros que nos dividiam eram anos-luz a meus olhos. De repente, pulsa o sangue nos membros e na cabeça, rompem-se as leis desta física e estou de pé… agora já não há volta atrás.
Refreado que está pelo temor da mente, caminha lento o meu corpo como se vestisse um antigo escafandro e me movesse dentro de água, e a cada passo parece que meu coração de tanto bater por ti explodirá quando esteja já a teu lado para que assim não te revele nada da minha alma. Vejo-te um pouco estranha perante a minha proximidade e ao olhares-me e sinto-me ridículo, tenho de matar este silêncio já ou matar-me-á ele a mim…
“- Hola!... Por favor dime solo una palabra que sea para que con tu voz salgas de una vez por todas de mi sueño y te haga real. Es que ya no puedo vivir sin saber si eres mirage u oásis."
Levantas-te decidida e num só gesto encostas suavemente os teus lábios húmidos aos meus, fecho os olhos e desapareces…