sábado, julho 28, 2007

Lisboa

Vejo-te morrer pelas ruas mas não paro, vejo-te escorrer para as sarjetas e ignoro. Vejo para além dessa luz que é só tua e encontro-te frágil e negra, infeliz até… mas sigo porque só te sei assim. És não mais que tu e não sei se não te sofro por nunca te ter querido ou se te amo demais para admitir o teu sofrer!
Entra a noite para te dar a luz que não se vê. Escondem-se os ratos com as baratas no interior das portas fechadas e as ruas desertas abrem-se para deixar correr o ar. Renasces ser luminescente da escuridão bebendo a água que corre a teus pés sem agitar. Corres ágil e bela por colinas e arcos iluminados do teu dorso de animal noctívago. Já não és triste… estás livre… livre dos teus. Mas será que alguém te viu?! Será que alguém descobriu como és?!...
Já é tarde! Foge… foge agora! Corre enquanto a luz não vem para te expor, esconde-te “capuleto” de pedra, esconde-te dos teus. Hiberna mais umas horas que o sol já te raia nas fronteiras para te desmascarar…
Ei-lo já estóico e quente. Trouxe com ele os ratos e as baratas e devolveu-te a luz que só te esconde… escapaste. Voltaste a ser triste para que assim todos te ignorem... talvez te esqueçam.
Prometo que não digo a ninguém quem és de verdade nem onde estás, e sei que se não quiser esperar por ti até à noite, peço à roupa pendurada nas varandas que me deixem ver-te numa sombria ruela de calçada.

terça-feira, julho 17, 2007



















Photo by: Diogo Franco